A DIALÉTICA DAS REDES SOCIAIS

05/11/2020 às 10h44

Por Carla Amorim, CIC Damas

        “As redes sociais não são inocentes do ponto de vista geral. ” Foi a partir desta frase citada por Allysson Campina, professor de história do CIC Damas, que os alunos da 3ª série do Ensino Médio tiveram a noção do debate gigante que estava começando. A aula, que foi transmitida ao vivo, teve como convidado Ribamar Ferreira, professor de sociologia e filosofia do CIC, e se tornou uma fonte de informações sobre o uso das tecnologias, sobretudo, das redes sociais. A temática central foi escolhida a partir do documentário "O Dilema das Redes", que foi lançado em fevereiro deste ano no festival de Sundance, nos Estados Unidos, e que ganhou repercussão mundial após entrar em cartaz nas plataformas de streaming.

        A partir dos cliques que você dá na tela, o tempo que você observa uma imagem, as suas preferências de busca e até a sua personalidade; enfim, tudo o que você faz online está sendo rastreado, medido e monitorado. “De certa forma, essa ideia da manipulação das pessoas a partir da massificação já era algo discutido nos estudos de Teoria da Comunicação, no começo do século XX, por teóricos como Adorno e Horkheimer”, lembrou o professor Allyson. No mundo midiático, é difícil distinguir as fronteiras da informação, do consumo e do entretenimento. “É a inauguração de uma nova economia mundial pautada na ideia dos desejos; os nossos desejos sendo atendidos em um clique”, disse o professor.

        No documentário, alguns ex-executivos de gigantes do Vale do Silício como Google, Facebook e Twitter deixam explícito que a vulnerabilidade da mente humana é usada o tempo inteiro para manter os usuários expostos o maior tempo possível às influências das redes sociais. “Se você não paga por um produto, você é o produto. ” Esse ditado popular no mundo do marketing veio à tona no docudrama e, certamente, ecoou nas mentes das milhares de pessoas que o assistiram. A tecnologia persuasiva, onde tudo é dimensionado em algoritmos, é alimentada pela oferta interminável de produtos e serviços. “Os algoritmos de programação se utilizam do user ID, que é a referência do usuário na rede, mas sem nomeá-los. É como se você fosse mais um número, mas sem identificar o seu CPF. Assim é feito o direcionamento de anúncios”, informou Tiago Martins, do setor de Tecnologia da Informação do CIC Damas.

        Mantendo o tom de reflexão, o professor Ribamar Ferreira frisou que “a sociedade agora é em rede e as mudanças de comportamento – seja de consumo, seja de postura social – se tornam mais rápidas. Dentro dessa pós-modernidade, essas ações vão se refletir nas redes sociais”, que se tornaram palco tanto para ações que beneficiam quanto para o cancelamento virtual, a polarização política, a massificação de opiniões e as fake news. “Estamos imersos em um mundo virtual, onde as vivências são transferidas para a internet, e isso faz com que muitos usuários percam a própria essência e personalidade. Por isso, é necessário dosar e consumir com responsabilidade. O ideal seria viver sem as redes sociais, mas, se isso não for possível, que haja um equilíbrio nesse acesso”, ponderou a psicóloga educacional Kaíza Barros.

        É aí onde entra a importância da “educação digital com valores consistentes”, como frisou Ribamar, “ou, infelizmente, estaremos entrando num processo de desumanização real e virtual”, continuou, citando o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Para Iasmin Araújo, formada e Educomunicação e mestranda em Linguagem e Ensino, “um ponto muito importante é engajar as escolas e incluir de forma curricular aulas, oficinas e workshops de educação para a comunicação. Tratar de temas como cultura digital, segurança no meio digital, recepção crítica dos meios e fake news de forma mais sistematizada.”

        Abordar um assunto denso, mas de forma clara e com diferentes pontos de vista acrescentou informações preciosas para os alunos.  “O debate foi de extrema importância tanto para abrir os olhares para a vida e também para ampliar nosso repertório sociocultural. Ajudou na construção do nosso senso crítico, já que é uma realidade nossa. Essa é uma discussão bastante pertinente e abrangente”, disse Lorena Morais, aluna da 3ª série C. “Os professores trouxeram o olhar das Ciências Humanas para o debate; eles fizeram pontes com a história e a sociologia. O tema nos deixa em estado de alerta”, completou a aluna Potyara Farias.

 

"Dois tipos de indústria chamam clientes de usuários: a das drogas ilegais e a de softwares."

O Dilema das Redes

 

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